O nada , eu e a bela mulher.


Abri meus olhos e espiei em volta. Onde eu estava? Nem reconheci minha própria casa. Pois acordei com uma tremenda dor de cabeça: ressaca da noite anterior.
Murmurei: - Ah homem, não te controlas, gritei em pensamento. Penso que de fato verbalizo a censura, pois supôs ouvir o eco de minha voz rouca pela casa: ...não te controlas... te controlas... controlas...
O que meu estômago recusava-se a aceitar mandava pelo esôfago acima, e espantei-me com as fortes contrações, mas cosi a boca, não iria vomitar, meu pai ensinara-me a ser homem, e homem que se preze não vomita depois de uma noite regada a cervejas e a toda sorte de bebidas alcoólicas. “Sou homem!”, disse ao olhar-me no espelho do banheiro, e reparo que havia manchas no meu rosto: arroxeadas e avermelhadas. 


Começo a recordar-me: "brigara na noite anterior, né Pedro? Burro, burro". Vagamente lembrava-me do sujeito com quem tive o atrito. Parece ter sido um negro... Aqui não mais me vem à mente o acontecido, difícil lembrança.
Bocejei. Ri: parecia um cavalo a bocejar. Gargalhadas agora em descontrole total, desconfiava do homem que me possuíra, ah sim, este não o era, não o conhecia, ah calo-me!
Não foi um pensamento, foi uma ordem. 
Dirigo-me ao quarto, deito e tocou o vazio.
Silêncio.
O silêncio gritava aos meus ouvidos, apontava o dedo, despiu-o diante de si, e mostrou-lhe o nada que era.
Um líquido quente a percorrer o meu rosto. Enxugei com a colcha o mais rápido possível, pois, segundo o meu pai e o mundo, homem não chora.
Lembro-me agora de tudo o que acontecera na noite anterior.


Estava caminhando na rua quando uma rapariga acenara-me. Fui até ela, pois não sou homem de recusar a um convite de mulher, e, se meu pai visse, teria orgulho do 'filho machinho'. Rapidamente apresentei-me: Prazer, eu sou um cara cheio de defeitos. Ela não quis saber de conversa, começou a beijar os meus lábios como quem desesperadamente deseja uma fruta, lambeu-me o rosto como quem devora um sorvete, ofereceu-se toda pronta, ela era uma diva, beleza estoteante e eu estava alucinado por ela. 


Mas um negro alto aparecera, deu-me socos, ao qual caí ao chão, e disse-me o agressor: "não mexa com minha mulher, ordinário!", e finalizou chutando-me o estômago. A partir daí não me lembrava como fui parar em casa, talvez um amigo me avistara, mas logo descartei a hipótese: não tinha amigos, sou sozinho no mundo.

O nada é ainda minha companhia, meu amigo, sempre o fora, a imensidão do nada era a minha casa, minha paisagem. Não tenho mais força para sorrir, gargalhar-me, minha vida é uma piada que de tanto repetir-se perdera a graça



"Não, eu não sou sempre triste assim. É que hoje estou cansada."
Clarice Lispector.
Pauta para 63° edição musical do Bloínquês, com a frase: "Prazer, eu sou um cara cheio de defeitos."

8 Pessoas confessaram Amor Verdadeiro:

Rodolpho Padovani disse...

Eita, que faz que não passo por aqui e olha só, um texto profundo desses me saudou. Vou ter que discordar Tatá, não achei o texto banal, pelo contrário, foi uma história intensa que me prendeu até o final para que eu descobrisse o que tinha acontecido com o cachaceiro, haha.

Ah, e não me esquecendo, agradeço a visitinha que me fez, gosto quando você passar por lá =)

Bjs e boa sorte com o texto.

Anônimo disse...

minha vida é uma piada .. e
esse texto ta incrivel ,assim como o Rodolpho disse é uma historia que prende o leitor ate o fim.Ja o blog tudo lindo como sempre .
Boa sorte no Bloínquês.
Beijos

Dani Ferreira disse...

Confesso que ainda não tinha lido um texto seu por inteiro rs. Mas vou passar aqui mais vezes. Gostei bastante da história Taay, carinha azarado ele né rs.
Bgs bgs ;*

Lorena Campos disse...

Que texto maara *--*
A melancolia dele fascina qualquer um.
Parabéns !
http://thedifferentgirls.blogspot.com/

gcavalcanti disse...

Muito bom o modo como você desenvolveu o tema.
Achei a história ótima.

beijos. (:

Anônimo disse...

Lindo,lindo,lindo e lindo.
E esse designe? perfeito!
sucesso... http://garotasnasruas.blogspot.com/

May Galdino disse...

Eu viajei lendo sabia?
Rs.
Muito bom meesmo!

Lys Fernanda Rodrigues disse...

Percebe-se a riqueza das palavras, à boa e recípocra linguagem que utilizara. Perdoe a minha ausência, estive dispersa até mesmo do meu blog, beijos uma boa noite.

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