UMA DAS CARTAS NÃO ENVIADAS

 Mais uma vez, sentada em sua escrivaninha, escreve compulsivamente mais uma carta, pensava consigo, precisava escrever algo genial, com muita modéstia, afinal, ninguém se interessava em seus rascunhos, não tinha coragem para mostrar a ninguém, mas sabia que escrevia para se livrar da angústia, de amar e não ser correspondida.

  AH! Aquelas cartas, tinha medo de que qualquer coisa que falasse se entregasse, ou de simplesmente falar o que não sentia, ou o que sentia e não deveria ser dito.

 Ela possui o caderno, cujas folhas sangram e as linhas pulsam. Outrora sempre a viam coagular sangue com ponta de lápis. Escrever era o seu refúgio, estava sonolenta, sentia-se tão magoada que não queria dormir se tivesse que acordar com o mesmo sentimento, com os mesmos pensamentos, preferia sentir toda a mágoa hoje, ser forte o suficiente para o mês inteiro, seu coração martelou uma vez, duro, espremendo duas lágrimas quentes de seus olhos, escreveu essas breves palavras:

 “ Não posso dormir, nem deixar que os meus olhos se abram. Acordar somente se tiver a certeza de que amanhã terei um pouco mais de alegria, de esperança, e de piedade de mim mesma para livrar-me desse amor, que por mais que me doa, não quero deixar partir.”

        A escrita por escrever é o falar sem dizer!

Frase inspiradora: " Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida." (Clarice Lispector)